Você está tomando seu remédio direitinho?
Você que é mãe de uma criança ou jovem que necessita de medicação controlada em razão de alguma condição de saúde mental, já deve ter feito esta pergunta a ele quando viu que alguma coisa não estava bem, né?
Pois é! Essa questão da medicalização para as famílias TRIMS é uma questão muito sensível e este documentário trata da mesma, sob os mais diversos ângulos, trazendo inclusive surpresas e revelações sobre o mercado farmacêutico na psiquiatria.
A principal abordagem do filme/documentário é relativa a casos em que a medicalização é extremamente questionável.
1- Medicalização no TDA e no TDAH
Podemos facilmente encontrar à nossa volta um exemplo do fato questionado nesta investigação de que os pais estão hoje em dia talvez preocupados demais sobre qual o capital humano que o filho terá no futuro.
2- O conceito de capital humano
Trata-se de um conceito que ultrapassa até a questão da competitividade e que parece algo infinito.
Para explicá-lo melhor, os documentaristas se referem ao fato de que muitos pais atualmente, antes mesmo de nascerem seus bebês, já lhes dão até Mozart para ouvir e já pensam também se terão vagas na pré-escola, chegando em alguns casos até a se preocupar com quais os esportes e currículos eles devem ter acesso para garantir melhor seu futuro.
Tudo isso se explica, conclui o documentário, pela ansiedade dos pais pelo valor do capital humano que seus filhos terão.
Em outras palavras, provavelmente antes de nascer, os filhos já carregam uma expectativa parental que, cada vez mais, beira as raias da neurose obsessiva e, atualmente, coletiva.
É, portanto, imbuídos dessa energia que os próprios pais acabam, eles mesmos, ofertando aos filhos, nos Estados Unidos, medicamentos como o Adderall prescrito para TDA e que ainda não teve comercialização aprovada pela ANVISA no Brasil. Tais pais, aliás, chegam a ficar satisfeitos quando um profissional da saúde os diagnostica com TDA para então prescrever aquele remédio.
Será que no Brasil a situação é diferente? Parece que não. Por aqui por anos vem aumentando, inclusive na comunidade médica, a crítica pelo excesso de diagnóstico de TDA e a hipermedicalização. É o que costuma ser chamado também de patologização da vida diária.
Mas afinal porque esse excessivo diagnóstico de TDA e TDAH?
3- O que são TDA e TDAH?
O TDA (Transtorno do Déficit de Atenção) é uma condição em que a pessoa não consegue focar a atenção em uma tarefa específica. Já o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) é uma condição na qual junto ao fator anterior, há também hiperatividade e impulsividade.
Um dos primeiros nomes médicos do TDA foi o de Dano Cerebral Mínimo (estranho!!!!) e o diagnóstico deste transtorno é bastante difícil, pois não há limites bem definidos, razão pela qual ele pode estar sendo inclusive confundido em alguns casos com sintomas ligados a outros transtornos mentais.
Além disso, é grande o perigo na prescrição exagerada de drogas medicamentosas, pois relega-se esta ação exclusivamente a um critério subjetivo que é mesmo social.
Diante de tal realidade, a verdade “inconveniente” que o documentário traz é a de que tanto os médicos quanto as famílias estão exagerando e criando principalmente entre os jovens um ambiente em que os medicamentos para TDA estão sendo indevidamente utilizados em massa, para obter performance acadêmica por aqueles que sequer foram diagnosticados.
Há inclusive o surpreendente tráfico público e notório destas drogas para o seu tratamento nos campi das universidades americanas. É o que se demonstra também no documentário.
4- A origem da Ritalina
Diante de todo o ambiente analisado, os documentaristas foram procurar a história por trás da criação do diagnóstico e igualmente das drogas para ele prescritas e chegaram então ao cientista Keith Connors que fez os primeiros testes com a Ritalina na empresa farmacêutica Ciba.
Aprendemos então que o nome Ritalina tem origem no nome da esposa do referido cientista, Marguerita e foi criada para “melhorar o seu ânimo”.
Têm-se então o nome Marguerita que levou a Rita, a Ritalina e enfim, como a conhecemos hoje em inglês: Ritalin.
É realmente assustador saber que foram fornecidos, nos primeiros testes do produto, barris de Ritalina ao Instituto Johns Hopkins que fizeram testes com crianças em escolas, que passaram a chamar a Ritalina de “math pills”(pílulas da matemática), isso porque pela primeira vez, crianças que tinham dificuldades haviam conseguido parar para fazer os testes de matemática com concentração.
5- Conclusão
O documentário demonstra, enfim, de forma inequívoca, como está havendo abuso na prescrição de medicamentos para TDA e igualmente no próprio diagnóstico por profissionais da saúde, ao ponto de o próprio Keith Connors afirmar que se arrependeu de ter criado a droga, por se sentir responsável pela realidade atual de “medicalização da vida diária”.
É certo que sabemos de diversos pacientes que foram efetivamente diagnosticados com TDA e TDAH, para os quais a medicação, prescrita de forma responsável, significou uma melhora de vida notábel em termos de vida social e escolar. Esta realidade, contudo, é bem diferente dos casos relatados nesta história de uso e prescrição indiscriminadas de Aderall e Ritalina, para melhorar a performance acadêmica de jovens que não apresentam nenhum dos dois diagnósticos.
Portanto, se você é uma mãe ou um pai que está cogitando dar a seu filho ou filha estes medicamentos, sem muita convicção sobre seu diagnóstico, esperamos que esta resenha possa ser mais um conteúdo informativo para auxiliar a sua decisão consciente.