Nosso espaço deProtagonismo e Pertencimento

Para que ninguém perca a coragem de ver este filme de 2013 em razão de seu título, por cogitar ser mais um daqueles “água com açúcar”, vale a pena frisar que o título em inglês é “Labor Day”, um “Dia do Trabalho”, ou seja, um feriado típico dos Estados Unidos. Título bem mais condizente com a história de uma família num dia qualquer de um feriado banal.

Os personagens

Trata-se de uma família que, de início, pensamos ser bastante simples, composta por uma mãe divorciada e seu filho adolescente que vão a uma loja de departamentos, comprar roupas, com um orçamento limitado.

A primeira pequena surpresa é que a mãe, protagonizada por Kate Winslet, não é uma pessoa tão simples assim que possamos definir apenas como uma típica mãe divorciada e sozinha.

Cenas demonstram que ela tem pânico de sair de casa; separou-se de seu marido porque ele se casou com a amante e várias cenas indicam nela uma inquietude senão algo mais patológico, que também nos inquieta. 

Não sabemos bem se ela é apenas melancólica e se sente sozinha ou se tem outros transtornos psicológicos, mas o que dá para perceber é que o seu filho tenta, de todas as formas, protegê-la, ao perceber sua fragilidade emocional.

É aliás emocionante enxergar esta “nuvem emocional carregada” que paira sobre esta mulher através da visão e da narrativa de seu filho, que não consegue dar nome, mas enxerga, do seu modo, a solidão e o medo de viver dela.

Interpretação magistral da Kate Winslet

A chegada de um perigoso estranho na família 

Este cenário é então interrompido no feriado do Dia do Trabalho quando, em uma grande loja de departamentos, o filho é rendido por um fugitivo da prisão, Frank, protagonizado pelo excelente ator Josh Brolin que sequestra a família, obrigando mãe e filho a levá-lo para a casa deles.

A partir de então a película é só tensão. O tempo todo ficamos pensando se o fugitivo é realmente um facínora que vai matar a família, ou se a mãe vai conseguir se defender com a faca que escondeu.

Além disso, a polícia realiza constantes rondas nas vizinhanças e o risco de o fugitivo ser capturado aumenta a cada dia.

Aos poucos, porém, conforme a convivência começa a gerar laços por motivos alheios a eles ou talvez, nem tão alheios assim, uma certa harmonia começa a se estabelecer entre estes três personagens tão ricos e tudo é mostrado de forma tão sutil, tão lenta, que o espectador não tem o que fazer a não ser continuar com os olhos pregados na televisão…. 

A tensão no ar

O fato é que até os últimos momentos, ficamos com a impressão de que o presidiário fugitivo vai aprontar alguma e apenas conseguimos enxergar, com benevolência, uma mãe solteira divorciada e solitária e um filho adolescente tentando suprir todas as necessidades emocionais dela. 

Paralelamente, é nítida a construção de uma nova dinâmica familiar com a chegada deste homem estranho que fala pouco e que traz à cena uma figura masculina ausente.

E aos poucos, muito devagar mesmo, vamos descobrindo quem é este fugitivo que veio parar nesta casa e que, através da convivência, transforma sua vida também. 

O questionamento que fica quando termina o filme

Foi somente após chegar aos títulos finais que concluímos que uma das experiências mais interessantes trazidas por esta película foi a de proporcionar ao espectador a possibilidade de questionar o seu próprio papel de julgador em relação ao presidiário foragido. 

Será que a gente no presente também não estaria usando e abusando deste papel de julgador, num mundo permeado pelas redes sociais e sua avalanche de informações enquanto, por outro lado, aumenta na mesma velocidade o número de pessoas solitárias em suas conchas?? 

Lindo de ver e tenso demais até o final!

Amamos. E você?

Plataforma: Netflix

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