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Palavras nas paredes do banheiro

Quando se fala de esquizofrenia, será que a maioria das pessoas não teria uma opinião já formada sobre o paciente antes de vê-lo como um ser humano?

Por que não o ouvir?

Será que os sintomas deste transtorno mental são sempre os mesmos?

Parece que não. 

De toda forma, em muitos casos os pacientes trazem o relato de ouvir vozes que fazem com que atuem de maneira socialmente reprovável, e este é o caso do personagem principal desse filme, cujo título, a nosso ver, não resume bem nem a jornada deste personagem, nem a própria história ao seu redor. 

Um jovem com esquizofrenia

Adam é um jovem que já no início da adolescência começa apresentar os primeiros sintomas da esquizofrenia, ouvindo vozes, as quais tenta o tempo todo controlar.

O filme mostra o dilema que é lutar contra estas vozes que parecem várias pessoas diferentes falando ao mesmo tempo com a pessoa.

A história de Adam passa por um histórico familiar de divórcio dos pais, com a saída do pai da casa, em uma época em que aprendeu a cozinhar para tentar melhorar a tristeza que enxergava em sua mãe; a entrada de um novo companheiro de sua mãe algum tempo depois, objeto de muita desconfiança por parte do jovem (que a gente descobre no fim do filme ser infundada) e, o que vemos sempre, uma mãe sempre disposta a correr atrás de algum caminho para seu filho. (se identificou, mãe TRIM!? Pois é!)

O ofício da gastronomia e o quadro de saúde mental

Com a prática, ele se torna um ótimo cozinheiro e passa a sonhar em ser um chef de cozinha, porém, na época do ensino médio, passa a ouvir constantemente vozes de vários personagens que são apresentados ao espectador durante o filme: um “fortão” que quer resolver tudo batendo com um taco nas pessoas; uma jovem “boazinha” que tenta equilibrar tudo; um jovem meio libertino e uma voz apavorante que sequer rosto tem. 

Desnecessário dizer que essa luta interna lhe traz muitos problemas, até que um dia, no laboratório de química, ele queima gravemente um colega involuntariamente, por estar perturbado com suas vozes interiores e passa a ser perseguido na escola pelos outros estudantes que o chamam de “esquisitão” e todos lhe ignoram porque acham que agiu com o colega com maldade.

É bem interessante notar em relação a este episódio que não é propriamente a direção da escola que representa seu maior problema, mas o preconceito dos colegas a seu redor. Muito familiar, isso!!!

Transferência de escola

Em razão de todos esses problemas na escola, não resta então outra solução à família senão a de transferi-lo para uma escola particular católica. 

Lá ele encontra Maya, uma colega de turma bem esperta, que passa a ser sua explicadora, mas que desde o início não sabe de seu transtorno mental. 

Maya é uma descendente de latinos cuja família lutou com dificuldade para que sua filha fosse matriculada nessa escola particular católica.

Como é uma aluna brilhante e passa por dificuldades financeiras, ela aceita de bom grado quando a família de Adam lhe contrata para ser explicadora, já que Adam está tendo notas ruins e precisa passar de ano, pois este colégio é sua última oportunidade de obter um diploma e conseguir depois continuar com o curso de culinária.

Maya, por sua vez, está sendo ameaçada de ser expulsa do colégio de freiras, pois a freira diretora vem a descobrir que ela vendia trabalhos para colegas e então a suspende por um período, durante o qual Adam vai atrás dela e acaba descobrindo que ela é de uma família humilde que cuida de dois irmãos junto com seu pai que tem uma incapacidade em razão de um acidente. 

Uma relação afetiva e um tratamento experimental

A partir daí os dois começam uma relação afetiva, que será, porém, atingida, porque em um determinado momento, ele começa a fazer um tratamento experimental que melhora a questão das vozes, mas tem seus efeitos colaterais, os quais ele quer esconder de todos, inclusive de Maya, que ignora seu quadro psiquiátrico.

Efeitos colaterais

De toda forma, chega um momento em que ele não consegue fazer nada mais do que gosta, principalmente cozinhar que é sua paixão, por causa daqueles efeitos colaterais do remédio, ou seja, tremores nas mãos, então engana a família, para de tomar o tratamento experimental e as vozes voltam.

É igualmente interessante observar o comportamento de seu padrasto durante todo o seu tempo, que é a pessoa quem sempre pontua o momento em que as coisas estão desandando e inclusive protegendo sua esposa.

O sentimento de Adam em relação a ele é de se sentir perseguido, mas no decorrer da história vemos que, ao contrário, o padrasto é inclusive aquele que irá intervir perante a segunda escola para que o jovem não seja mais uma vez expulso.

Pessoas diferenciadas pelo caminho

Enquanto isso, ele se confessa sempre com um padre na escola que é nada mais nada menos que o ator Andy Garcia, que enfim parece ser o único que quer saber mais sobre o ser humano que está confessando do que o transtorno que ele tem.

Mais um revés

Infelizmente ele é suspenso da escola por não tomar medicamentos, surta no baile de formatura e é novamente internado.

No final, ele vai à formatura e fala diante de todos os alunos e pessoas presentes que ele só precisa daquele diploma para tentar seguir a sua vida e consegue. Vai trabalhar e continua ouvindo vozes, mas aprende a convier melhor com suas limitações.

Conclusão

Geralmente, quando a gente indica um filme, ele tem uma conclusão ou quase uma “moral da história”. Esta película, porém, é diferente. Ela foi indicada sobretudo para que as pessoas imaginem o que pode estar passando na cabeça de um paciente, para talvez compreendê-lo melhor, sem estigmas e sem achar que a solução que o medicamento X dá para ele pode ser melhor do que outras abordagens.

É enfim um filme de conscientização.

E talvez neste particular, seja melhor, como diz Paul Baker, do grupo Ouvidores de Vozes (em relação ao qual comentamos no nosso último artigo do blog) ensinar o paciente a conviver de uma forma melhor com as vozes do que tentar, de forma medicamentosa, acabar com elas sem pesar os custos para a dignidade do paciente.

 Portanto, se você tem um filho com Esquizofrenia, que tal contar-nos a sua experiência? O filme te trouxe novas ideias? Esperamos que sim.

Plataforma: Netflix

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