Nosso espaço deProtagonismo e Pertencimento

O filme americano O Mínimo para Viver, um retrato feito por e para pessoas com transtornos alimentares (segundo dito nos créditos iniciais), não é definitivamente entretenimento descompromissado. É um “soco no estômago”, mas que precisa ser visto, não somente como forma de conscientização sobre o que significa ser uma jovem com anorexia, mas também para que pais se questionem como estão lidando com filhos e filhas com este problema.

Cada cena em que nos deparamos com o corpo frágil da jovem, que é pele e ossos (no original To the bone) dá vontade de chorar, principalmente porque ela não consegue enxergar que está terrivelmente doente.

A história

Na cena inicial do filme, a jovem Ellen, vivida magistralmente por Lily Collins (que já passou pelo problema de distúrbio alimentar, portanto representa o que sabe), é expulsa de mais uma clínica em que ficou internada, por comportamento inaceitável, e vai para a casa de seu pai, onde sua madrasta lhe diz que não poderá mais ficar se continuar a emagrecer, e tampouco ir para a casa de sua mãe que, avisada de sua presença, respondeu não ter condições de acolhê-la. 

À primeira vista, a figura desta madrasta é quase caricata, mas ainda que seja um pouco amalucada, o fato é que ela percebe rápido que, se alguém não fizer nada pela vida de Ellen, que é viciada em fazer abdominais e não tem mais o menor prazer em comer nada, a morte está muito próxima.

Também há outra questão grave e atualíssima no filme que é o fato de a protagonista ser uma ótima desenhista, cujos desenhos destrutivos teriam influenciado o suicídio de uma jovem, levando seus pais a lhe culparem pelo ocorrido. 

Em um segundo momento, então, a madrasta já referida encaminha Ellen para um médico, com métodos diferenciados (Keanu Reeves no papel) e nesta clínica na qual as pessoas só ficam voluntariamente é que  começa a jornada transformadora da protagonista, até conseguir ao final pelo menos achar algum motivo para seguir adiante.

O que pensa uma pessoa com anorexia?

Uma das questões que mais chama atenção, na história, é como as pacientes de anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares negam que estejam perdendo as rédeas de suas vidas. Neste sentido, bastante emblemática é a fala de Ellen quando ela diz: 

“Eu tenho tudo sob controle. Não se preocupe. Nada vai acontecer.”.

É igualmente perturbador ver como uma jovem não consegue encontrar sequer um motivo pelo qual valha a pena viver.

A sociedade diante do distúrbio alimentar

Geralmente, as pessoas que estão de fora procuram alguma causa para aquilo, como a pressão da sociedade pela magreza, principalmente na adolescência que é um tempo muito complexo para as jovens; um conflito familiar; uma família disfuncional, ou um trauma de infância, mas nem sempre é assim. 

De fato, como afirma uma terapeuta que atende na clínica, as pessoas com transtornos alimentares, que são um vício como outro qualquer, não param de comer porque querem emagrecer, mas porque querem ficar anestesiadas para algo que não querem sentir. 

E por fim, ainda se fazem presentes, como sempre, os efeitos em cada um dos membros da família da pessoa com anorexia. Sua irmã menor, ao ser perguntada sobre como a condição de sua irmã lhe atinge, responde que isso lhe afeta ao ponto de não ser lembrar sequer de sua prom (baile de formatura que para os norte-americanos é algo muito importante)e que só lembrava desse dia porque houve um outro problema com sua irmã ligado à sua doença. Ou seja, como ocorre com muitos irmãos de crianças e jovens com os mais diferentes distúrbios de saúde mental, o que vemos é que não há como não haver sérios reflexos também em suas vidas. Esta é mais uma questão a ser enfrentada.

Ainda em relação aos familiares, outro fato curioso do filme é que ainda que a mãe da protagonista seja uma pessoa egoísta, pouco afetuosa e cheia de “discursos prontos”, o fato é que paradoxalmente é ela quem será a responsável por uma frase emocionante que cria enfim o desejo em Ellen de mudar o rumo de sua vida:

“Eu aceito que você queira a morte”.

Enfim, é um filme e tanto,  que nos traz o ensinamento válido para qualquer campo da vida, de que às vezes é preciso chegar ao limite para transformar algo, dando chance à cura. 

E para famílias que têm a questão no centro de sua vida, também é um insight válido para talvez tentar entender porque as pacientes agem como agem.

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