Quando a cobiça sem limites se depara com duas questões essenciais da humanidade: “a dor e o prazer”
Esta minissérie em seis capítulos da Netflix, narra a história do império farmacêutico de Arthur M. Sackler, a Purdue Farma, e o estrago que ela causou e continua causando nos Estados Unidos, por representar a origem da epidemia em opioides que vem matando de overdose milhares de jovens e adultos, de forma incontrolável, naquele país.
1- A origem da Purdue Farma
Os episódios iniciais retratam o psiquiatra Arthur como um ser desprezível que sempre teve ganância de poder e dinheiro e que, acima de ser um médico, era um ótimo vendedor. É com esse objetivo em mente que ele criou o Valium, que é muito conhecido, inclusive no Brasil e que, ao que parece caiu em ostracismo, sendo substituído pela mais nova droga medicamentosa da semana, capaz de lidar com as duas questões essenciais da humanidade, segundo Richard Sackler (sobre o qual falaremos em seguida), quais sejam, “a dor e o prazer”.
Foi então com este produto que o criador da Purdue Farma ficou riquíssimo e sempre esteve em busca de outras drogas que pudessem lhe gerar lucro, ainda que o custo fosse uma enormidade de efeitos colaterais. É o que o é demonstrado nos seis episódios desse misto de documentário e ficção.
O tamanho de seu poder era tanto que toda a sociedade da época a ele se rendia, sendo signo deste poder de influência o fato de sua família ter o nome na frente de diversos museus, e outros espaços de arte.
2- Richard Sackler e a origem da epidemia dos opióides nos EUA
Foi então que, com a sua morte, o seu sobrinho Richard (de índole nem um pouco melhor que o fundador, diga-se de passagem), protagonizado no filme por Matthew Broderick, lhe sucedeu nos negócios e veio enfim criar a droga que veio a ser um flagelo para a nação estadunidense: O Oxycontin.
Mesmo sabendo do poder devastador dessa droga, extremamente viciante, Richard fez uma grande campanha nacional para sua divulgação, cooptando médicos para prescrevê-la e a famosa FDA não fez absolutamente nada para impedir este escândalo. Resultado: uma droga tão viciante que foi responsável pelo aumento da violência em diversas cidades, pequenas médias ou mesmo grandes metrópoles naquele país. Uma praga nacional.
Muitos de nós talvez não conheçamos esta realidade, mas a série que não é rigorosamente um documentário, pois traz uma versão dramatizada da vida dos membros da família Stackler, mostra como um mercado pode matar.
3- Histórias retratadas
Junto disso também são relatadas as histórias de uma fiscal do sistema de saúde do Ministério Público que acaba descobrindo por acaso a máfia por trás das prescrições do Oxycontin; de uma jovem que se deslumbra com o dinheiro e o glamour que o comércio da droga lhe proporciona, mas que depois colabora com as investigações ao se dar conta de sua participação na morte de tanta gente; e por fim a de um dono de oficina, um pacato cidadão que sofre um acidente após o qual o médico lhe prescreve Oxycontin.
Nesta última história, aliás, podemos compreender o mecanismo viciante do medicamento, pois ele fica cada vez mais dependente de doses maiores da droga, descontrolado e destrói assim sua vida e a de sua família. É uma história única, mas, na verdade, infelizmente, muito parecida com tantas outras de adição, independente da droga a que se refira.
4- Relatos reais
Muita gente que não tem um parente com problema de adição em drogas pode desavisadamente julgar o viciado e pensar que se trata de uma questão de má-índole ou que o vício é uma escolha.
Contudo, para desmistificar essa ideia, cada episódio, no seu início, contém o poderoso depoimento de mães reais cujos filhos morreram de overdose de opioides, e todas elas nos fazem lembrar que a adição em drogas é uma fatalidade que atinge toda uma família transformando crianças e jovens que eram saudáveis e amorosos em caos e destruição.
São de cortar o coração os relatos que abrem cada episódio.
5- Chame seu adolescente para assistir com você
É enfim uma minissérie para assistir, refletir e talvez valha a pena também fazer o/a adolescente que você tem em casa assisti-la com você, de forma preventiva, para que ele/ela não chegue nem perto desse doloroso universo.