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Neste filme italiano, a história começa (ou melhor dizendo, se transforma) quando o pai de Nikola e Tesla (sim, o irmão e a irmã têm esse nome em homenagem ao engenheiro sérvio injustamente esquecido pela história quando se fala da invenção da eletricidade) morre e deixa um testamento, com cartas para ambos os filhos, afirmando que eles só terão direito à herança em dinheiro se ficarem um ano convivendo na mesma casa da família.

Por incrível que pareça, aqui, a questão da dificuldade de convivência, na mesma casa, por irmãos tão diferentes, é menor diante das outras grandes questões trazidas, dentre elas a verdadeira razão do distanciamento destes irmãos e, por fim, a vida familiar da mulher, Tesla e seus filhos.

Na maior parte do tempo, ignoramos o motivo de os irmãos terem se afastado, mas a impressão que dá é que o irmão Nik é apenas um egoísta que saiu pelo mundo, sem dizer tchau.

Aí já surge a grande surpresa, que só é revelada quase na parte final da película, mas nós não iremos dar spoiler, ok?

A mãe em permanente estado de tensão

Quanto à Tesla, desde sua primeira aparição na tela, já chama atenção a olheira da pessoa!

E não é para menos. Seu filho Sebastiano é um jovem violoncelista que sofre de esquizofrenia, mantém contínuos diálogos conflituosos com a voz que escuta e tem reações exacerbadas a troca de rotinas.

E a vida desta mãe é cuidar dele.

Ela vive continuamente em estado de tensão, bebe vinho um pouco além da conta e, ao lado de culpar seu irmão por ter ido embora sem lhe dar algum suporte, no início ainda lhe sonega a informação sobre a condição de seu filho, a qual, obviamente, ele descobrirá com o tempo.

Em realidade, parece que ela deseja sonegar do mundo esta informação e a explicação para sua atitude vem um dia quando o irmão lhe pergunta porque ela lhe sonegou o fato. E a resposta diz tanto sobre ela e sobre as famílias TRIMS…:

– Eu cansei de dar explicações. Eu cansei de explicar porque meu filho faz assim, porque age “assim ou assado” e ser julgada. Estou cansada! ESTOU CANSADA!

Esta é uma das frases que mais ouvimos das mães que têm de lidar com as dificuldades diárias ao cuidar de filhos com transtornos mentais, seja lá qual for o diagnóstico.

Fazer parte de uma família TRIM gera efeitos para todos os seus membros, de diferentes formas.

Por outro lado, é interessante se atentar ao fato (talvez até para se fazer uma autocrítica construtiva) de que às vezes o zelo demasiado de uma mãe TRIM pode impedir que seu filho tenha vivências positivas, ainda que dentro do seu limite de realidade.

No mais, a película nos faz questionar um aspecto que é pouco ou quase nada debatido quando se fala de crianças e jovens com transtornos mentais, ou seja, o efeito desta realidade sobre os irmãos, que no caso é uma jovem que igualmente sofre com um pai ausente.

Um final questionável

A única coisa que achei desinteressante ao ponto de não valer um comentário é a cena final do filme, que fala de uma suposta “cura” de esquizofrenia após um acidente, pois, pelo menos pelo que vejo ao meu redor, trata-se de uma visão fantasiosa que não ajuda de verdade as famílias que passam por esta dificuldade, mas posso estar errada…

Em resumo, há muito de humanidade, sabedoria e surpresas nesta experiência.

Espero que curtam, ou melhor, absorvam mais este aprendizado através do cinema.

Uma família, muitos mundos pessoais.

Plataforma: Netflix

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Respostas de 5

    1. Olá Marilene! Pelo que entendi o Nicola foi embora porque a namorada dele teve um caso com seu pai, mas não cheguei a prestar atenção nesta outra fala. Vou até rever esta parte do filme, para ver se não prestei atenção direito.

  1. O garoto não se curou, ele morreu. Quando está no hospital e se levanta para falar com a família foi um recurso que o diretor usou para que a ela fique bem. A doença dele fazia com que a mãe vivesse para cuidar dele. O quadro dele era grave e dolorido para todos.

    1. Olá, Lana. Eu também entendi desta forma. Ele morreu no final e acho que o que se desejou mostrar também com o filme é como é dolorido para uma mãe ter um filho com um quadro de esquizofrenia grave que levou a que ela própria já estivesse “morta”a muito tempo deixando de viver sua própria vida.

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