Um documentário que mais do que contar uma história, traz ensinamentos sobre o bem-viver.
A experiência atual que muita gente está vivendo de se sentir ansiosa, com medo e desconectada emocionalmente o tempo todo:
Um documentarista argentino, Alejandro De Grazia, está vivendo no limite, estressado, em estado de ansiedade generalizada, preocupado com o mundo, com as finanças e desconectado de sua família.
Foi quando decidiu, depois de um convite de sua esposa, partir em uma viagem para o Monte Fitz Roy na Patagônia Argentina (um dos lugares considerados mais bonitos do mundo para fotografar), na companhia de Matthieu Ricard, um monge considerado “o homem mais feliz do mundo”; David Steindl-Rast, um monge beneditino de 93 anos que passou a maior parte de sua vida recluso meditando; e com a neurocientista Tania Singer.
São estas três visões de vida que, ao lado de terem possibilitado a Alejandro se reconectar com o mundo, nos trazem lições únicas de como lidar com este universo em que vivemos, que nos faz ansiosos e incompreensivelmente insatisfeitos com tudo o que alcançamos — embora o acesso a qualquer informação (inclusive a lições de autoajuda de como ser feliz e equilibrado) seja mais fácil hoje, para grande parte da humanidade.
A busca do cineasta é sobre como achar o bem-estar e sair de um estado de stress e ansiedade e, neste contexto, ao perguntar primeiramente ao monge Matthieu Ricard sobre estas questões, este lhe responde: “Existem várias formas de resolver a ansiedade, que se apresenta como uma dissonância entre os nossos anseios e aquilo que fazemos. Uma forma é pessoal e a outra interpessoal.”
A segunda pergunta, colocada em seguida ao monge budista, é o que fazer quando as sugestões recebidas para se livrar da ansiedade são praticar mindfullness ou meditação mas o cineasta (assim como muitos de nós, diga-se de passagem!) não sabe muito bem o que é tudo isso e tampouco acha fácil entender esse universo.
Como meditar?
A resposta é ao mesmo tempo didática e profunda, e a gente repetiu este trecho do filme mais de uma vez para pensar sobre ela, que é a seguinte: atualmente há muita confusão sobre o que seja a meditação, mas para o monge budista, que não se coloca como um especialista e detentor da verdade mas um discípulo, o conceito de meditação é o de cultivar qualidades humanas básicas como a atenção, a bondade amorosa, a paz e a liberdade interior (“se você não tem liberdade interior, é prisioneiro de sua própria atividade mental”) e se familiarizar com a forma como a nossa mente funciona. Isso, segundo ele, envolve o treino, a prática que traz a familiarização. No mais, acrescenta, ao cultivar ativamente a bondade, a benevolência, a compaixão e a bondade amorosa, se voltando para os outros, você estará menos preocupado com seus sentimentos.
Em outro ponto do filme, o cineasta aponta que a sua ansiedade é como um macaco que não para nunca e, a partir desta sua colocação, Matthieu responde que não adianta tentar destruir este macaquinho, mas sim estudá-lo muito, conhecê-lo — mesmo porque, há os macacos do Japão, cujas fotos muita gente já viu, que se mostram com aquele ar tranquilo e sereno, se banhando relaxadamente naquelas águas quentes.
Portanto, conclui ele partindo da metáfora do macaquinho, o importante é descobrir quais os estados mentais causam mais sofrimento, para assim lidar com eles. Neste contexto, refere-se por exemplo ao stress social que é o medo de não ser aceito, de estar sempre tenso e não buscar a autoestima dentro de si, buscando-a indevidamente em outros.
Já o monge budista David, ao ser perguntado sobre o que fazer para interromper um processo de ansiedade, de medo de tudo, traz uma abordagem um pouco diferente, mas igualmente interessante.
Segundo ele o importante é termos energia, e nos fazermos a pergunta essencial: “O que a vida quer de nós?” Isto porque é a vida que nos dá tudo. E cercado de vida, reagimos.
Para isso é importante prestar atenção numa lição que parece simples mas que não é — assim como parece ser simples, mas não é, o seu ensinamento com base nas palavras PARAR, OLHAR E AGIR.
Quanto a táticas de meditação, que comumente ouvimos como sendo “tirar tudo da cabeça”, Matthieu afirma que não se trata de lutar para manter a cabeça vazia; não há uma única solução fácil para isso e que faça milagres, pois, como ele diz, nada fácil demais é verdadeiro.
Assim é que ele ensina que, para deixar nossa mente mais calma, uma boa solução (dentre outras que existem) seria escolher alguém, um animal ou um objeto para fluir um amor incondicional, um amor que possa preencher nossa mente, e manter esse amor brilhante, com qualidade, por 5, 10 ou 15 minutos. Em seguida, aumentar o círculo para além do ser que você escolheu. Por exemplo se você escolheu uma criança, pense em outras crianças, através de um desejo altruísta que é o de que esses serem achem a felicidade. E ao repetir infinitamente a experiência, estaremos cultivando as qualidades antes mencionadas.
A posse de bens materiais é que nos impede de ser feliz?
Em outro ponto do filme, perguntado pelo cineasta se, para ser feliz, ele deveria abrir mão de tudo que tem, de todos os seus bens, Matthieu responde que ter posses não é o problema. O problema é que o bem-estar não é atingido com isso. Tal condição é como conhecer um momento especial (como é o caminho para o monte Fitz Roy com a sensação de estar naquele local especial, na natureza) e revivê-lo. Assim, ele conclui, essa experiência se torna parte de você mesmo, e você pode até tê-lo num engarrafamento.
Nossa impressão:
O que a gente achou de mais incrível no filme é como, de uma forma simples e acessível, as perguntas e respostas são colocadas sem apresentar os religiosos em um pedestal, e ensinando que nós, pobres mortais, em nossa luta diária com a ansiedade, com nossos problemas do cotidiano e nossas inconsistências, podemos procurar validamente vários meios para buscar o nosso bem-estar, e, por que não? a nossa felicidade.
Respostas de 2
Não gosto desses títulos de “o mais ____ do mundo” para coisas subjetivas como a felicidade, mas as conversas com o monge Matthieu Ricard de fato nos põem a pensar e repensar muitas coisas — ainda que os diálogos com os outros participantes sejam igualmente profundos, tocantes e por vezes até engraçados — como realmente sói ser a vida.
Muito bom filme!
Concordo com a questão semântica! Esse o “mais… do mundo” geralmente está ligado àquelas coisas de fórmula da felicidade, que geralmente são ilusão, mas o legal do filme é que desde o início ele se propõe a ser um “vamos entender esse mundo e tentar mudar individualmente algo, ou pelo menos começar a entender-se” ao invés de ser uma fórmula pronta. Legal que você também achou o filme muito bom!