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Relato do participante de um estudo clínico com MDMA 

Um recente artigo da revista norte-americana MIT Technology Review trouxe o impactante relato de Nathan Mcgee, 43 anos, um homem que procurou esta solução quase quatro décadas após sofrer, aos 4 anos uma experiência traumática.

Nathan conta que durante anos os médicos lhe diagnosticaram com TDAH, ansiedade, depressão e dislexia até que em 2019 foi diagnosticado com Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT), sendo que durante este período igualmente por anos trocou de terapeutas e de medicamentos.

Porém, alega que todos estes medicamentos eram tomados só para que se sentisse normal, pois nunca sentiu alegria e sempre se sentiu agitado e carregando um peso.

Seu relato, aliás, representa o caminho de muitos jovens e adultos com transtornos mentais: uma sucessão de diagnósticos, remédios variados, e com alguma sorte, em algum momento enfim, em alguns casos, uma melhora significativa. 

Pra Nathan, a perda do emprego em um determinado momento foi o que o levou a questionar se ela não teria ocorrido por causa de seu transtorno mental, foi quando resolveu fazer então o que fosse necessário para resolver esta situação.

Foi esta ocasião que chegou ao estudo clínico com MDMA pesquisando na internet (o que comprova um dos pontos de vista que defendemos, ou seja, as famílias TRIMS não podem depender só dos profissionais de saúde que as atendem para ser informarem, daí a razão de ser da gente estar aqui!!!!)

Antes de abordar as particularidades do estudo clínico, vale ressaltar que o MDMA é um psicoativo sintético com reputação de droga recreativa conhecida também como ecstasy, ou molly que faz com que o cérebro libere grandes quantidades da serotonina química, que causa um efeito eufórico, mas também reduz a atividade no sistema límbico do cérebro, que controla nossas respostas emocionais

E são estas características que parecem ajudar as pessoas com TEPT a revisitar suas experiências traumáticas na terapia sem serem sobrecarregadas por emoções fortes como medo, constrangimento ou tristeza.

Para ver um pouco do que é esta droga sintética, com mais detalhes, vale a pena rever os comentários que fizemos em nossa curadoria de filmes, na resenha do documentário “Como Mudar sua Mente”, cujo link segue abaixo:

https://camposhumana.com.br/como-mudar-sua-mente-minisserie/: Relato do participante de um estudo clínico com MDMA 

Os resultados do teste clínico:

Quanto ao teste clínico, foi ele realizado pela Associação Multidisciplinar de Estudos Psicodélicos, uma organização sem fins lucrativos com sede na Califórnia, que criou um ensaio randomizado e duplo-cego, do qual Nathan participou. 

Os participantes participaram de três sessões de oito horas, durante as quais receberam placebos ou duas doses de MDMA antes de discutir seus problemas e receber aconselhamento de dois terapeutas qualificados.

Os resultados do teste clínico foram publicados em maio de 2021, na Nature Medicine e são impressionantes. Dos 90 pacientes que participaram, aqueles que receberam MDMA relataram resultados significativamente melhores do que o resto e dois meses após o tratamento, 67% dos participantes do grupo MDMA não tinham mais TEPT, em comparação com 32% no grupo placebo.

Os resultados são realmente encorajadores, e nos EUA, pelo que se relata no artigo em tela, a previsão é a de que o tratamento seja aprovado pelo Us Food and Drug Administration no final de 2023.

Aliás, outros estudos estão sendo feitos naquele país e também no Reino Unido testando se a Psilocibina e a Cetamina também poderiam ser utilizadas no auxílio ao tratamento de outros transtornos mentais e trazem primeiros resultados positivos.

A dinâmica do teste:

Em sua entrevista, Nathan descreve primeiramente como era o quarto da clínica onde o teste foi feito: mobiliado com um sofá e uma cama com cobertores e travesseiro. 

Descreve também a dinâmica do teste afirmando que havia música no ar, o ambiente era calmo como se fosse um spa. Foram checados seus sinais vitais e os profissionais também perguntaram qual era o objetivo desejado com a experiência. Houve em seguida uma pequena cerimônia ou ritual quando foi acesa uma vela para sinalizar o começo das coisas, quando então um dos terapeutas voltou com um pratinho com a pílula que é tomada. Disse então que se sentou e esperou, conversando enquanto isso com os terapeutas.

Acrescenta que, em um determinado momento como nada acontecia falou “acho que isso não é o MDMA” (fala que se explica porque alguns participantes receberam só um placebo, logo poderia ser o seu caso), mas de repente sentiu que a droga “pegou”; foi ao banheiro e no espelho viu sua pupila que parecia um pires.

Sentiu então sua mente aberta e clara e decidiu se deitar, colando uma máscara nos olhos para bloquear a claridade e falou depois com os terapeutas quando entendeu que estava pronto para tanto.

Afirma que quase reviveu a experiência traumática sem o estigma, pressão ou enjoo e chegou a um tipo diferente de entendimento sobre este fato.

Informa também que variava entre períodos de introspecção e extroversão, ora falando com os terapeutas, ora relaxando, e que, no mesmo dia, mais tarde, recebeu outra dose, um pouco menor da droga, só para prolongar a experiência.

Sinalizou que durante todo o processo, os terapeutas falavam com ele e a experiência, no fim, realmente, mudou totalmente a sua vida, ao ponto de sua mulher ter vindo lhe pegar e já notar a diferença, sentindo-o mais calmo. 

Além disso, comentou que não é mais uma pessoa triste, pois mesmo quando se sente um pouco triste, isso não representa mais o fim do mundo, porque sabe que é passageiro, é só um dia ruim. E por fim passou a apreciar a companhia de sua família e seu relacionamento com os seus pais melhorou.

Tudo porque, confirme diz, passou a entender a diferença entre quem ele é e quem é por causa dos efeitos do trauma.

Conselhos para quem considera procurar esta terapia:

Por fim, para os que pensam procurar esta terapia, ele inicialmente já ressalva que, na sua opinião, a terapia com o MDMA não pode ser legalizada rápido demais, sendo ainda necessários mais testes. No mais, sustenta que ela não pode ser confundida com o uso recreativo das drogas, em relação ao que ele enfim adverte:

Se você pensa que vai ali comprar um ecstasy e curar sua depressão, você pode se desapontar. É preciso ter as pessoas certas para lhe guiar através do processo, para se sentir seguro. É ótimo, mas tem que ser feito do jeito certo

Fonte: MIT Technology Review – artigo de Charlotte Jee de 25/08/2021 (tradução livre)

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