O Medical Research Council (Conselho de Pesquisa Médica) da Inglaterra, concedeu financiamento a dois pesquisadores do Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência do King’s College London (a Professora Jonna Kuntsi e o Professor Richard Dobson) como parte de uma nova bolsa científica concedida à Dra. Jessica Agnew-Blais, professora da Queen Mary University London.
1- O projeto de pesquisa
O projeto A life course approach to understanding ADHD among women (Uma abordagem ao longo da vida para entender o TDAH entre mulheres) tem como objeto de estudo uma questão bastante intrigante, ou seja, o universo de mulheres com TDAH.
Nele serão estudados quais são os padrões apresentados pelas meninas que desenvolvem o TDAH pela primeira vez na idade adulta; se os sintomas de TDAH pioram durante a adolescência e se as mudanças hormonais associadas ao ciclo menstrual pioram os sintomas nas mulheres com TDAH. E o interessante é que as mulheres serão monitoradas através de um anel, o Oura ring.
Serão então coletadas informações sobre sintomas, medicamentos e problemas de TDAH, como o humor depressivo, por meio de questionários diários em smartphones, ao lado do uso de um wearable chamado anel Oura.
2- O wearable Ora
Trata-se de um “anel inteligente” a ser usado pelas mulheres no dedo, para que sejam avaliadas mudanças na temperatura corporal basal, padrões de sono e atividade física, para entender como as alterações hormonais podem afetar os sintomas do TDAH.
A pertinência de tal estudo, com foco nas mulheres, reside primeiramente no fato de constatarmos que, enquanto na infância mais meninos são diagnosticados com TDAH do que meninas, na idade adulta as mulheres compõem 50% da população de TDAH.
Além disso, são escassos os estudos quanto a este público específico, pois como ensina a Dra. Jessica Agnew-Blais:
“Por causa de uma ideia desatualizada de que o TDAH afeta apenas meninos, o TDAH entre as mulheres é frequentemente negligenciado na pesquisa”- Dra. Jessica Agnew-Blais, Professora de Psicologia da Queen’s Mary University of London
3- O protagonismo do uso da tecnologia no IoPPN
A utilização de tecnologias pelo Instituto de Psiquiatria, Psicologia e Neurociência (IoPPN) do King’s College de Londres não se iniciou com o uso do anel Ora.
Com efeito, o instituto já vem liderando o desenvolvimento de tecnologias de medição remota para condições de saúde mental, como a depressão e TDAH, permitindo o monitoramento remoto ativo e passivo, usando dispositivos vestíveis e smartphones com uso de uma plataforma de saúde móvel de código aberto que a sua equipe desenvolveu, a base RADAR.
O sistema de Tecnologia Remota de TDAH (ART), que usa a ferramenta RADAR, permite que diferentes medidas sejam incluídas em diferentes estudos, dependendo das questões de pesquisa do projeto específico. Por exemplo, enquanto o novo estudo acima cogitado usará o anel Oura, há também o uso de dispositivo vestível diferente, o EmbracePlus, no projeto em andamento da equipe de TARV sobre fatores de risco cardiometabólico e adesão a medicamentos em adultos com TDAH.
É interessante notar que ao abrirmos o link da plataforma Radar, há a notícia de que tal estudo conta com 111.000 participantes, o que representa uma base de dados bem robusta de pesquisa e pode trazer dados bem importantes para pacientes e médicos.
4- Perspectivas
Estes estudos demonstram enfim o grande potencial da tecnologia para o monitoramento dos pacientes, a nosso ver não para que se descubra e pesquise mais um medicamento, mas sobretudo para derrubarmos tabus em termos de saúde mental e permitir que políticas públicas quanto ao tema possam ser mais bem endereçadas e por fim para que pais e mães que têm filhos com algumas destas condições de saúde mental possam perceber avanços sendo feitos na área.
É bom enfim para que estes últimos possam enfim ter a esperança de um dia viver uma jornada com a redução, ou talvez, quem sabe, a erradicação dos piores efeitos que os transtornos mentais trazem tanto a seus filhos quanto a toda a sua família.