Muitas são as perguntas que estão no ar quando se fala deste novo homem do século XXI.
Para entender, antes de criticar, vale a pena ler sobre o que andam escrevendo sobre isso, inclusive por que uma das grandes dúvidas atuais é sobre quem seriam estes rapazes que vemos atacando escolas com armas.
Será que isso tem a ver com o que a gente anda ouvindo por aí sob o título de “masculinidade tóxica”? Ou será que neste caso estaríamos falando dos chamados “Lost Boys” (Rapazes Perdidos) que alguns supõem serem os responsáveis pela atual fase de violência que temos visto por aí?
1- As raízes da masculinidade tóxica:
O tema da Masculinidade Tóxica já vem sendo tratado há algum tempo, inclusive de forma sensacionalista nas mídias, porém, o mais importante – além de tentar dar um nome e achar as causas disso – é enxergar de frente o problema e ver o que a sociedade pode fazer para que os “rapazes perdidos” possam viver de forma mais saudável a transição da infância para a adolescência e também quando chegarem à vida adulta, trazendo indiretamente benefícios para todos, homens e mulheres com os quais vierem a se relacionar afetivamente ou mesmo profissionalmente.
2- Um documentário para entender a transformação do menino em adolescente:
Há quase uma década atrás, Jennifer Siebel Newsom, em 2015, lançou o documentário The Mask You Live In (“A Máscara em que Você Vive”), no qual aborda como a ideia do macho dominante afeta psicologicamente crianças, jovens e, no futuro, adultos nos Estados Unidos.
Este documentário não está mais disponível na Netflix, mas pode ser encontrado no Youtube, ou ainda através do site https://therepproject.org/films/the-mask-you-live-in/ .
Ele traz informações super relevantes para explicar por que, nos EUA, meninos que eram tão dóceis enquanto crianças passam a ter comportamentos agressivos inclusive em relação às meninas, e surpreende sobretudo por seu olhar objetivo, com várias entrevistas que levam o espectador a se questionar sobre a educação que está passando para seus filhos.
Note-se que o documentário é de 2015, muito tempo antes das redes sociais serem o que são hoje em dia, com seus ambientes que em muito aumentam o potencial de agressividade destes meninos, mas o tema continua, de fato, atual.
3- O que está acontecendo com estes meninos?
Uma tentativa de resposta trazida no referido documentário é que a partir do momento em que o menino chega à adolescência, deixando de participar mais do núcleo familiar e passando a integrar mais grupos com seus pares, ele deseja ardentemente ser aceito neste novo grupo social, e neste momento, é a própria sociedade que lhe ensina, na TV, nos videogames e aonde mais for, que ele deve ser forte, agressivo e exercer o papel de liderança, de líder do bando para ser aceito.
E olha que as mães, às vezes sem querer, inconscientemente ajudam essa mentalidade quando falam:
– Para de chorar! Menino não chora !
– Meu filho tem um monte de namoradinhas! Estou tão orgulhosa !!
É então a partir de uma determinada época que a gente começa a verificar que os novos ambientes que os meninos passam a integrar estão impregnados da cobrança equivocada de uma nova postura, na qual a virilidade e agressividade, ainda que de forma velada por alguns, passam a ser comemoradas.
Além disso, até mesmo em algumas famílias (felizmente em minoria, hoje, acredita-se) inicia-se a cobrança sobre eles, encorajando comportamentos agressivos.
E hoje o que observamos é a absoluta falência deste modelo. E aqui, antes que alguém se apresse para dizer que esse não é o “lugar de fala” de uma mulher, ao falar de homens, posso dizer que é sim, à medida em que somos mães e participamos de todo este processo de criar e deixar ao mundo os nossos filhos.
Pois bem, abertos e fechados os parênteses, podemos concluir que hoje esta modelagem de comportamento masculino está colapsando e deixando um triste rastro de meninos violentos, inseguros e o pior, ainda está desembocando em desfechos fatais, como os de tiroteios em escolas, numa história que começou nos EUA e está se alastrando para outros países, inclusive, infelizmente no Brasil.
4- Por que temos visto o aumento de atos violentos por rapazes pelo mundo?
Uma das respostas plausíveis para esta pergunta pode ser encontrada em um recente artigo do jornal The Atlantic, intitulado The Narcissism of the Angry Young Men (O Narcisismo dos Homens Jovens Raivosos), de 29 de janeiro de 2023 o jornalista Tom Nichols alerta para o fato de que a sociedade está se tornando refém das inseguranças de um pequeno grupo de machos emprisionados na adolescência e que são extremamente perigosos.
O articulista concorda que os EUA estão inundados de armas; que a depressão está crescendo entre os jovens e que os extremistas usam a rede social para transformar perdedores atomizados em compostos explosivos.
Afirma, porém, que “a matéria-prima de toda a violência é principalmente um fluxo de jovens perdidos” e que “A verdadeira doença que aflige estes homens (…) é o dilúvio de narcisismo do mundo moderno, especialmente entre os jovens que fracassaram no lançamento, e cuja grandiosidade ferida os leva a culpar os outros pelas suas próprias falhas e inseguranças – e a procurar vingança. O narcisismo é uma doença comum, mas, para os Lost Boys (Rapazes Perdidos), é componente indispensável para uma bomba cujo núcleo é uma massa instável de inseguranças sobre a identidade masculina“, continua Nichols.
5- Masculinidade tóxica X Rapazes Perdidos
O jornalista nota, contudo, que é importante distinguir os Rapazes Perdidos dos homens tóxicos, assim o fazendo: “O problema da masculinidade tóxica é real, mas os idiotas arrogantes e os abusadores violentos que por vezes se tornam uma ameaça para as suas parceiras (e para si próprios) são diferentes dos homens-rapazes inseguros que decidem provar o seu valor – ou apenas provar que existem – cometendo atos extraordinários de assassinato em massa. E, em geral, os homens tóxicos são fáceis de detectar. Os Rapazes Perdidos são, pela sua natureza, normalmente invisíveis até atacarem”.
Feita então a diferenciação entre a masculinidade tóxica e a atuação destes Rapazes Perdidos que são os causadores de atentados horríveis, com centenas de mortes, que deixam a nossa razão e a nossa humanidade paralisada de horror, pergunta-se então qual seria a solução para lidar com tais jovens, sem cair no círculo vicioso de culpar uma coisa e outra e nunca agir no sentido de prevenção.
Sua recomendação é então a seguinte: “a solução passa por começar a falar mais sobre o problema específico da perigosa imaturidade masculina, sem cair em ciclos intermináveis sobre o controle das armas, a saúde pública ou a ‘masculinidade tóxica’. Deveríamos, nas escolas e nas universidades, prestar mais atenção aos rapazes e aos jovens que parecem estar indo em direção à escuridão, talvez tentando atraí-los para uma comunidade ou para uma mentoria de homens mais velhos. No mínimo, deveríamos ser capazes de encontrar uma forma de fazer intervenções suaves numa fase inicial, em vez de enfrentar consequências mais drásticas mais tarde.”
Enfim, você que é mãe de um menino ou jovem, leia com atenção o texto, questione, pense e repense bem a educação que você está dando a seu filho, os princípios que está propagando e veja a quantas anda o diálogo de vocês, para saber ajudar antes que o problema esteja instalado.
Talvez o seu simples ato individual ajude o mundo na criação de um menino que se torne um homem mais saudável tanto física quanto emocionalmente.
E se você não for mãe, aproveite para passar este texto para outras mães, para que o questionamento materno se propague e se transforme em um grande motor de mudanças.
Fonte: tradução livre do artigo de Tom Nichols The Narcissism of the Angry Young Men do jornal The Atlantic